A polémica levantada por Eduardo Cintra Torres (ECT) na sua coluna de opinião no Público da semana passada - em que analisando o tempo de abordagem dos noticiários da RTP em relação aos incêndios, acusa depois, «escondendo-se» em fontes anónimas, que o Governo dá «recados» à Direcção de Informação Pública - acabou por ser uma oportunidade perdida para se chegar ao âmago da questão. Em vez de acusar - sem jamais conseguir provar - poderia e deveria questionar. E de forma muito comprometedora.
Se se recordam, ECT comparou os noticiários das televisões no dia 12 de Agosto para mostrar que havia uma clara secundarização dos fogos na RTP. O dia 12 foi um sábado. Por acaso, eu já tinha feito uma análise semelhante no dia 6 de Agosto, quando então escrevi o post «O frete televisivo», que podem aqui reler:
No Portugal da RTP - empresa pública de televisão -, hoje não houve fogos em Portugal. E os que houve ficaram remetidos para as calendas do alinhamento e apenas os que foram extintos. Enquanto as outras televisões (SIC e TVI) deram o destaque merecido, com directos q.b., a RTP gastou 33 minutos do seu telejornal das 20 horas a abordar a guerra no Líbano (com pelo menos três directos com outros quantos jornalistas), a tensão no Irão, os problemas em Gaza, a doença de Fidel Castro, um acidente no Parque da Pena devido à queda de uma ramada de eucalipto (que causou uma morte). Depois em dois ou três minutos, a RTP apenas abordou dois incêndios, ambos circunscritos de manhã e, nessa altura, já extintos: na Póvoa do Varzim e em Paredes (Aguiar de Sousa). De resto, nem uma única palavra sobre a situação actual, designadamente a mais de uma dezena de incêndios que então estavam ainda não circunscritos. Eis um exemplo de serviço público que, sob critérios inconfessáveis, se confunde com serviço do Governo. Eu bem que temia que a introdução de critérios para a abordagem dos incêndios pela Direcção de Informação da RTP - de que falei há dias -, ia dar nisto...
Ora, o dia 6 de Agosto foi um domingo. Também fui reparando, ao longo dessa semana, que a RTP passou a dar um destaque algo semelhante à das outras televisões. E também já tinha reparado que no dia 9 de Julho - um domingo -, quando morreram os seis bombeiros na Guarda, a RTP também quase ignorou o caso.
Em suma, ECT poderia - e deveria, porventura - ter levado o seu trabalho mais longe. Porque os indícios que tenho - e que poderiam sem confirmados com um pequeno trabalho - é que existiram grandes diferenças entre os noticiários da «RTP fim-de-semana» e da «RTP dia-da-semana». Se isso se confirmasse com uma análise um pouco mais exaustiva - como indiciam os dias 9 de Julho, 6 e 12 de Agosto -, então munido de dados concretos, ECT poderia questionar a RTP de tão estranho critérios, tanto mais que as equipas que fazem os noticiários são distintas nestes dois períodos. E se uma (a dos «dias-da-semana) teve critérios objectivos, a outra (a dos «fim-de-semana) não os teve.... algo teria de ser bem explicado.
Nota: O uso das fontes anónimas (uma «praga» no jornalismo português) deveria ser erradicado do jornalismo ou apenas usado em circunstâncias muitíssimo especiais. E em notícias de política (ou com implicações nesta área) deveria ser, desde já, banido. A fonte anónima em Portugal serve para tudo, desde lançar boatos, fazer acusações ou «disfarçar» a incompetência dos jornalistas em investigar ou assumir a responsabilidade daquilo que escrevem. Se vezes usei (muito poucas) as fontes anónimas em artigos, foi para proteger pessoas, não para me «proteger» de ataques ao que assumidamente escrevi.