8/02/2006

Despejar água para tapar o sol com a peneira

Tenho defendido que, nas actuais circunstâncias, Portugal tem necessidade de apostar mais no combate aos incêndios florestais. Mas «mais» significa «melhor», de forma mais eficaz e numa relação que pondere sempre os custos. Nos últimos anos, a «contabilidade» é deveras preocupante: Portugal gasta mais no combate e arde mais. Este ano, o Governo está claramente a mostrar que quer gastar mais ainda, mas isso não significa necessariamente gastar melhor. E obter melhores resultados em termos de área ardida.

Tenho acompanhado quase diariamente o site do SNBPC sobre os meios utilizados no combate aos incêndios. Como na maioria dos casos se consegue observar, através do Google Earth, as localizações dos focos de ignição (uma inovação que merece elogios), constata-se que em muitas situações o recurso a meios aéreos não faz sentido e apenas constutuem um gasto muito caro. O uso excessivo de meios aéreos acaba, aliás, por ser contraproducente. E porquê digo isto? Por duas razões: em alguns casos as manchas florestais em perigo são pouco extensas e mesmo que as coisas deêm para o torto, em muitas situações os danos nunca seriam elevados; por outro, dá a sensação de que os meios aéreos tudo resolvem.

Enquanto há poucos incêndios, esta estratégia até dá bons resultados em termos de área ardida, mas do ponto de vista económico é um desastre a prazo. Por exemplo, ontem um incêndio que começou às 18 horas numa freguesia de Castelo Branco teve um imediato ataque musculado: 59 bombeiros, 14 viaturas, três helicópteros e quatro aviões! Apagou-se em menos de uma hora! Sucesso? Não! Teria havido sucesso se o fogo tivesse sido extinto sem que sete aeronaves andassem a despejar água ininterruptamente num fogo nascente! Nenhum sistema é eficaz nem economicamente sustentável se necessitar de tantos meios aéreos para debelar um fogo no seu início, porque haverá muitos dias em que essa tão grande disponibilidade deixará de ser possível. Mas mesmo que fosse possível, no fim do ano pagaremos uma pesada factura. E ninguém nos garante que a área ardida seja menor: basta, aliás, olhar para a última década.

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