8/20/2006

Inventar a roda com ela já descoberta

O anúncio do Ministério da Administração Interna de profissionalizar os bombeiros que combatem os incêndios florestais, aproveitando-os no restante período para outras funções, embora seja um projecto ainda verde, parece-me com contornos que o direcciona para o fracasso. Pelo que se sabe pela imprensa, a ideia é criar uma estrutura profissional dentro das corporações de bombeiros voluntários - o que, em abono da verdade, já existe para os serviços ambulatórios e para a estrutura de combate aos fogos durante o Verão - com a criação de um comandante a ser nomeado pelo presidente da autarquia.

Tenho defendido a profissionalização dos bombeiros - única forma de garantir disponibilidade, de dar o treino e as tácticas mais eficazes, e portanto exigir melhores resultados -, mas criar uma estrutura profissional paga pelos dinheiros públicos no interior de uma estrutura gerida por associações privadas (como são as associações de bombeiros voluntários) não parece que vá dar bons resultados. Mais ainda quando um dos objectivos é o combate aos incêndios florestais. Voltarei ao tema, quando se conhecer em concreto o que se vai fazer, mas julgo que o modelo que se deveria seguir, no caso dos fogos florestais, era criar estruturas autónomas às dos actuais bombeiros voluntários, apenas controladas pelo Estado. Veja-se o que se fez em algumas cidades portuguesas (Lisboa, Porto, Gaia, etc.) ou no estrangeiro. Isto não retiraria trabalho aos bombeiros voluntários, tanto mais que apenas 3% das suas intervenções ao longo do ano são referentes ao combate aos incêndios florestais.

P.S. A imprensa, em geral, continua a ignorar que praticamente todos os bombeiros que estão a combater os fogos são profissionais ou profissionalizados (durante o Verão). A percentagem de bombeiros voluntários disponíveis é irrelevante, e ainda mais se se descontar aqueles que são funcionários de autarquias, cujo presidente os disponibiliza para as operações de combate (mas mesmo estes, bem vistas as coisas, recebem o dinheiro pela função na autarquia). Actualmente, no combate aos incêndios, o voluntariado praticamente não existe.

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