8/08/2006

As estatísticas do SNBPC de trazer por casa

Segundo o SNBPC, este domingo foi o dia com maior número de incêndios desde 2003, com 546 incêndios florestais ou em zonas de mato. E segundo a mesma entidade, duplicou-se o número de fogos em relação ao mês passado. Este balanço não surghe por acaso: o SNPBC quer transmitir que mais incêndios, dá mais trabalho; mais trabalho «justifica» que os incêndios «descarrilem» por alegado excesso de trabalho.

Esta estratégia não é nova e há anos poder-se-ia ver notícias em que se relatava a existência de mil incêndios num só dia. Mas há um aspecto que deve merecer reflexão e desconfiança. A esmagadora maioria destes incêndios são, na verdade, inexistentes ou sem quase mobilização de recursos (vd. post «Já esperava esta deculpa...», de ontem). Mas há um pormenor que me leva a dupla desconfiança: o anterior valor mais elevado desde 2003 ocorreu em 20 de Agosto do ano passado, em que se registaram 545 ocorrências (dos quais 40% apenas nos distritos de Porto e Braga). Ou seja, no domingo passado bateu-se, de forma muito conveniente, o recorde por uma-1-uma ocorrência!!!

Quanto à duplicação de fogos, esta é outra engenhosa forma de ver as estatísticas. Julho foi húmido; não pode constituir qualquer termo de comparação, porque às tantas, assim, também se pode comparar Agosto com Janeiro. E em qualquer ano, durante o Verão, existe uma amplitude enorme ao longo dos dias. Por exemplo, em Agosto do ano passado, o valor máximo foi de 545 fogos, no dia 20, enquanto o valor mínimo registou-se no dia 10, com apenas 29 fogos. Por classe, nesse mês de Agosto houve seis dias com menos de 200 fogos cada e oito dias com mais de 400 fogos cada.

Estes dados são oficiais (Direcção-Geral dos Recursos Florestais) e também apresentam a área ardida por cada dia. Seria exaustivo referir aqui valores de área ardida por dia, mas garanto-vos que não existe qualquer correlação entre número de fogos e área ardida. Aliás, como refiro no livro Portugal: O Vermelho e o Negro, pegando nos dados oficiais e comparando os quinquénios 1996-2000 e 2001-2005 constata-se uma diminuição de 6% no número de ocorrências e um aumento de 120% na área ardida. Não se venha, por tudo isto, com a desculpa do número de fogos!

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