Que haja milhares de sites que incitam ao suicídio, sabemos bem; que haja milhares de sites que incitam à pedofilia, idem; que haja milhares de sites que incitam ao terrorismo, idem; que haja milhares de sites que «incitam» à vida, sabemos que também há; que haja milhares de sites que «incitam» ao amor, idem; que haja milhares de sites que «incitam» à protecção das criaças, idem. Ou seja, há milhares de sites que incitam a tudo e a nada.
No entanto, esta notícia do DN anda às voltas com a relação entre os supostos ensinamentos na Internet e um alegado aumento da taxa de suicídios em Portugal que terá, supostamente, duplicado em relação aos anos 90. Isto mesmo se os valores apresentados, na própria notícia, para os anos de 2002 e 2003 mostrem até uma ligeira diminução (passou de 1200 para 1100, ou seja, uma descida de quase menos 9% entre estes dois anos).
Mas o mais engraçado é que a maior parte da notícia do DN é gasta com esta (tentativa de) tese da relação causa-efeito Internet-suicídio - dando até exemplos de bloggers suicidas -, e depois quase no final os dois jornalistas escrevem o seguinte: «Os especialistas vão dizendo que não se podem tirar grandes conclusões dos números e do facto de a taxa ter duplicado na era da Internet. Querem esperar pelos dados de 2004 e 2005 'para apurar se, do ponto de vista epidemiológico e sociológico, estamos numa fase de crescendo'». Mas, pergunta o leitor, afinal que acrescenta a notícia ao título? Afinal, tudo espremido, descontando as especulações sem sentido, a notícia poderia ser apenas o título - «Milhares de sites da Net incitam ao suicídio» - e não valia a pena escrever mais nada, porque é pura especulação bacoca (tipo discutir sexo dos anjos) encontrar, nas actuais circunstâncias, qualquer relação causa-efeito entre sites sobre suicídios na Internet e suicídios (ou tentativas de) consumados.
Enfim, esta notícia do DN faz-me, aliás, lembrar a anedota que correlaciona a prostituição com a Igreja: de facto, se se for a ver, há mais prostitutas nos locais onde há mais padres... Ou então a rábula do Herman José, de há muitos anos: «Arranjem-me uma notícia para este título!», clamava então um chefe de redacção.
Nota: Além disso, acrescento eu, é importante que se tenha em consideração que as estatísticas em relação aos suicídios devem sempre ser vistas com alguma precaução, sobretudo em relação ao passado. De facto, até aos anos 90 - e até ainda hoje, em certa medida -, o suicídio era um acto «escondido» como causa de morte por razões de «decoro» familiar e, sobretudo em regiões rurais, por razões religiosas. Ora, como uma parte considerável dos óbitos não implicam a realização de autópsia - e recordo-me que há cerca de cinco anos, pegando em dados oficiais, as causas desconhecidas para a morte rondavam mais de 30% -, qualquer análise rigorosa e, em especial, comparativa é enganadora. Por outro lado, nestas coisas, os estudos não são assim tão simples, mesmo que os anos de 2004 e 2005 apresentassem um aumento de suicídios seria uma estupidez apontar o dedo à Internet. Até porque, na verdade, uma significativa parte dos suicidas eram idosos... que nunca souberam o que era a Internet...
No entanto, esta notícia do DN anda às voltas com a relação entre os supostos ensinamentos na Internet e um alegado aumento da taxa de suicídios em Portugal que terá, supostamente, duplicado em relação aos anos 90. Isto mesmo se os valores apresentados, na própria notícia, para os anos de 2002 e 2003 mostrem até uma ligeira diminução (passou de 1200 para 1100, ou seja, uma descida de quase menos 9% entre estes dois anos).
Mas o mais engraçado é que a maior parte da notícia do DN é gasta com esta (tentativa de) tese da relação causa-efeito Internet-suicídio - dando até exemplos de bloggers suicidas -, e depois quase no final os dois jornalistas escrevem o seguinte: «Os especialistas vão dizendo que não se podem tirar grandes conclusões dos números e do facto de a taxa ter duplicado na era da Internet. Querem esperar pelos dados de 2004 e 2005 'para apurar se, do ponto de vista epidemiológico e sociológico, estamos numa fase de crescendo'». Mas, pergunta o leitor, afinal que acrescenta a notícia ao título? Afinal, tudo espremido, descontando as especulações sem sentido, a notícia poderia ser apenas o título - «Milhares de sites da Net incitam ao suicídio» - e não valia a pena escrever mais nada, porque é pura especulação bacoca (tipo discutir sexo dos anjos) encontrar, nas actuais circunstâncias, qualquer relação causa-efeito entre sites sobre suicídios na Internet e suicídios (ou tentativas de) consumados.
Enfim, esta notícia do DN faz-me, aliás, lembrar a anedota que correlaciona a prostituição com a Igreja: de facto, se se for a ver, há mais prostitutas nos locais onde há mais padres... Ou então a rábula do Herman José, de há muitos anos: «Arranjem-me uma notícia para este título!», clamava então um chefe de redacção.
Nota: Além disso, acrescento eu, é importante que se tenha em consideração que as estatísticas em relação aos suicídios devem sempre ser vistas com alguma precaução, sobretudo em relação ao passado. De facto, até aos anos 90 - e até ainda hoje, em certa medida -, o suicídio era um acto «escondido» como causa de morte por razões de «decoro» familiar e, sobretudo em regiões rurais, por razões religiosas. Ora, como uma parte considerável dos óbitos não implicam a realização de autópsia - e recordo-me que há cerca de cinco anos, pegando em dados oficiais, as causas desconhecidas para a morte rondavam mais de 30% -, qualquer análise rigorosa e, em especial, comparativa é enganadora. Por outro lado, nestas coisas, os estudos não são assim tão simples, mesmo que os anos de 2004 e 2005 apresentassem um aumento de suicídios seria uma estupidez apontar o dedo à Internet. Até porque, na verdade, uma significativa parte dos suicidas eram idosos... que nunca souberam o que era a Internet...
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