Pode já ser fixação minha, mas João Morgado Fernandes, aqui no French Kissin', denota mais uma vez, na minha opinião, uma doentia desonestidade intelectual (e nem quero ir à questão jornalística). Vejam como ele sintetiza os aspectos mais importantes do artigo de ontem no Jornal de Notícias: no seu post, ele releva APENAS - e repito, APENAS - uma pequena parte das opiniões de três investigadores contactados pelo JN que se referem aos alegados «sinais de melhorias de organização, traduzidas em factores como melhor articulação entre entidades, gestão racionalizada de recursos e utilização de técnicas como o contra-fogo», bem como ao «efeito dissuasor de uma maior presença de efectivos da GNR no terreno e de acções massivas de sensibilização».
Contudo, na verdade, o artigo diz muito, mas muitíssimo mais. Os aspectos mais importantes - que constituem o fundamental da notícia do JN, olimpicamente ignorados por JMF, são os seguintes (cf. se pode confirmar lendo o original:
1 - Xavier Viegas, investigador da Universidade de Coimbra, acentua (...) que tem havido «uma tendência de reduzir áreas nos sucessivos relatórios» da Direcção-Geral dos Recursos Florestais, salientando ser «pertinente a dúvida» sobre os números reais.
2 - A ajuda da meteorologia é considerada essencial por Xavier Viegas, que destaca o facto de ter havido vários períodos de precipitação, «extremamente importantes para a redução do risco».
3 - Hermínio Botelho, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Minho diz que «não tivemos ventos de Leste tão frequentes e fortes como em anos anteriores e eu diria que isso pode ter sido decisivo».
4 - Cardoso Pereira, do Instituto Superior de Agronomia, diz ainda que «não devemos esquecer, embora não me admire que os políticos tentem ignorar, que nos últimos cinco anos arderam um milhão e 100 mil hectares de floresta» e que essas áreas «além de não arderem, funcionam como barreiras".
(entre aspas estão as citações dos investigadores)
Só a seguir é que a jornalista do JN escreve - sem usar citações - que os três investigadores concordam que «parece haver sinais de melhorias (...)» - ou seja, o «parece haver» é uma formulação que mostra a necessidade de se fazer uma avaliação mais rigorosa e que, portantos, os investigadores não põem, para já, as mãos no fogo. Até porque, sobre estas matérias, eles são bastante prudentes em relação ao futuro.
Mas essas coisas são para o João Morgado Fernandes pouco relevantes: ele ignora tudo o que é taxativo e destaca apenas o que são percepções. E ignora também os «momentos muito pontuais em que se notou que a máquina não está bem oleada», como destacou Hermínio Botelho - e que foi particularmente visível em incêndios no Minho (que teve o segundo pior ano de sempre).
Nota: João Morgado Fernandes ainda tem a desfaçatez de terminar o seu post referindo que «os media, quando investigam a sério, chegam geralmente a conclusões que contradizem a lenga-lenga de que está tudo na mesma, é sempre a mesma desgraça, bla-bla-bla...». O problema é que os media - e mais concretamente o DN - pouco investigam; e no caso específico dos fogos deste Verão o DN nunca esteve muito interessado em investigar...
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