9/01/2006

Tudo é histórico... até o disparate

Para tentar deslocar a polémica em torno da redução do caudal do Guadiana, o Ministério do Ambiente tentou que a comunicação social deslocasse as atenções para outros rios, supostamente mais problemáticos. Daí que uma «fonte do Instituto da Água» (não identificada, claro) se aprestasse a dar informações ao Correio da Manhã para que se mostrasse ao povo de Portugal que a situação do Douro em Espanha é muito pior do que a do Guadiana. E por isso Portugal pode ser mais afectado por essa causa.

Os disparates da notícia do Correio da Manhã são vários - a começar pelo facto de que no Douro as barragens são de «fio de água» devido à sua reduzida capacidade de armazenamento, pelo que é natural haver pouca água no Verão -, mas o maior surge quando o jornalista refere que «as reservas de água da bacia hidrográfica do Douro espanhol atingem valores históricos de falta de água». Porém, logo na frase seguinte fica-se a saber que afinal «as barragens estão agora com apenas 34,5 por cento da sua capacidade máxima, um valor superior em apenas 1,7 por cento da capacidade de armazenamento registada no ano passado, quando ocorreu a pior seca dos últimos cem anos». Ou seja, ao contrário do Guadiana, no Douro afinal há mais água do que no ano passado (aliás, como escrevi ontem e hoje em artigos do Diário de Notícias). Por isso, não se compreende onde estão os «valores históricos». A menos que tudo seja histórico... até o disparate.

Nota: Este é mais um caso que vai ao encontro do que já escrevi sobre a falta de preparação técnica dos jornalistas, que permite manipulações por parte das «fontes».

Sem comentários: