O João Morgado Fernandes (JMF), no French Kissin', decidiu, e ainda bem, responder ao meu post de ontem. Confesso que me escapa o seu raciocínio da primeira parte do post, porque se estatisticamente é verdade que ardeu 1/5 do ano passado, aquilo que tenho reiteradamente dito é que, mesmo assim, os valores são medíocres, incluindo a eficácia do combate. E que já tivemos anos semelhantes (ou até melhores) antes da catástrofe absoluta de 2003 e 2005. E que, pelas análises que faço, a situação deste ano não augura nada de bom para o futuro.
Porém, em relação à segunda parte do seu post, fiquei a «aprender» algumas coisas. Diz JMF - ressalvando o meu sentido de humor - que confrontando a situação portuguesa com a espanhola, eu comparo o «incomparável», dado que «em Espanha, a única região que é comparável com Portugal é a Galiza - o resto, ora é meseta desértica (floresta, onde?), ora é mediterrânica, ora é zona dos Pirinéus, de características completamente diferentes das nossas».
Ora, depois de ler isto, conclui que andei a ter visões quando visitei a Espanha. Por isso, peguei em alguns livros da área da floresta e... queimei-os à noite, pela fresca e em cimento - para não provocar incêndios florestais. Depois, socorri-me de alguns conhecimentos de informática e tentei «liquidar» as páginas do Eurostat (aqui) e do Ministério do Ambiente de Espanha (aqui) que «insistem» em impingir-nos que a Espanha até tem maior percentagem de área florestal (em relação ao total do seu território e, obviamente, em termos absolutos) do que Portugal. E obriguei-me a escrever 500 vezes «Portugal é o país mais florestado da Europa», apesar dos dados da União Europeia dizerem que ocupamos 2,8% da UE-25, mas a nossa área florestal (que inclui os matos) representa 2,2% do total.
Mas ainda tomei mais medidas ao reflectir nas sábias palavras de JMF, que escreveu que «a Galiza (...) toda ela coberta de floresta de crescimento rápido, em continuo [tem] uma vantagem enorme face a Portugal - o clima: temperaturas mais amenas, humidade mais elevada». De facto, a Galiza tem 66% da sua superfície com floresta (OK, não é toda, mas sempre é mais do que qualquer distrito português*), mas esse é um pormenor... que até vai contra o que JMF defende, pois quanto mais floresta, mais pode arder em termos absolutos, mesmo que em termos relativos arda menos
(Adenda 1: já agora, é bem feita: quem os mandou, aos galegos, ter tanta floresta? Assim têm maior risco de ela arder! Deveriam ter feito como no Minho que, em 1995, tinha cerca de 1/3 do seu território arborizado... assim não pode nunca arder tanto. Agora a sério: se então considerássemos, não a área territorial, mas sim a àrea florestal afectada, então a situação do Minho este ano, em termos percentuais, ainda pioraria mais comparativamente à Galiza... isto é uma questão de saber usar correctamente a estatística). (adenda
(Adenda 2: e se comparei Galiza com Minho foi por terem climas idênticos. Eu podia ter comparado Andaluzia com Portugal - quase do mesmo tamanho e com a mesma percentagem de área florestal. Mas, neste caso, estamoa a ser injusto com os andaluzes que têm um clima mais quente e seco do que a média em Portugal. E para Portugal seria uma vergonha, porque arde para aí uma s25 vezes mais...).
Assim, face ao meus «heréticos erros» de climatologia, abjurei e criei uma «Real Mesa Censória», decretando que uma série de livros de climatologia e meteorologia fossem imediatamente, sem apelo nem agravo, para o Index Librorium Proibitorium. Não é que os «sacanas» desses livros mostravam que o clima da Galiza (nas provícnias que arderam: Corunha, Pontevedra e Ourense) e do Minho (distritos de Braga e Viana do Castelo, que se têm fartado de arder, inclusive este ano) é igualzinho?! Ou que entre a Andaluzia (com muita, muita floresta) e o Alentejo e Algarve (quanta floresta tem o Algarve agora?) o clima é também praticamente igualzinho?! E, enfim, poderia continuar...
Ainda estive para «boicotar» informaticamente os dados climatológicas que se encontravam no nosso Instituto de Meteorologia (ver aqui, a figura 4, por exemplo) e no dos espanhóis (ver aqui, carreguem depois na barra da climatologia e pesquisem), que continuam a mostrar essas semelhanças (em média, nos meses de Verão, chove entre 100 e 200 milimetros; durante o ano supera os mil milímetros e há zonas serranas, tanto na Galiza como no Minho, que ultrapassam os dois mil), mas desisti. Fui-me deitar. Que continuem eles a divulgar erros, que o João Morgado Fernandes nos mostrará a verdade. Sem um só número, mas é a verdade...
P.S. A «culpa» do tom deste post é do próprio JMF (que espero tenha fair-play), por ter referido que o «PAV mantém o sentido de humor». Quis mantê-lo...
* - Em 1996 (último inventário florestal), os distritos de Aveiro, Coimbra e Setúbal eram os três mais florestados com 48%, 47% e 51%. Claro que, sobretudo os dois primeiros, têm agora muito menos. De acordo com as minhas estimativas (com base em dados oficiais), Aveiro terá agora entre 35% e 42%, enquanto que Coimbra andará entre 30% e 39%. Setúbal teve um decréscimo mais reduzido: no máximo 3 pontos percentuais.
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