9/17/2006

Na mouche

Eduardo Cintra Torres, na sua crónica habitual de domingo no Público, consegue aprofundar e clarificar de uma forma indesmentível o seu polémico artigo onde denunciava a censura e as pressões governamentais sobre a RTP em relação à cobertura noticiosa dos incêndios.

Eu tinha apontado aqui que via um erro na primeira crónica de ECT: analisara apenas a cobertura num dia (12 de Agosto). Ora, hoje ele apresenta uma análise mais detalhada de um período mais longo e, sem dúvida, fez muitíssimo bem, porque confirma com números que a RTP menorizou claramente esta questão. Mas ele introduz também uma comprometedora actuação da Direcção de Informação da RTP quando pretendeu mostrar o «serviço» do Governo. Passo a citar:

«No dia 15 os incêndios já tinham abrandado. O alerta passara de laranja a amarelo no domingo, 13, e a azul na terça, 15. Nesse dia, o Telejornal como que resumia a sua política editorial na semana em que, segundo esse mesmo noticiário, tinha ocorrido um terço dos incêndios do ano. Foi o dia em que o ministro António Costa foi a Carnaxide receber os bombeiros que estiveram na Galiza. Os três canais fizeram directos ao local. A entrevista da SIC em directo ao ministro teve uma duração de 2m23s. A da TVI durou 2m34s. O Telejornal deu ao ministro em directo 6m36s. Depois de quase duas semanas dedicando aos incêndios menos ou muito menos atenção que os privados, o Telejornal (da RTP) deu 2,5 vezes mais tempo ao representante do Governo».

Ou seja, houve uma clara intenção da RTP em fazer «desaparecer» os fogos em Portugal e mostrar que tanto assim seria que o nosso Governo até tinha tido um papel de bom samaritano por ajudar os «desgraçados» galegos. E não deixa de ser curioso que, como já referi, em termos proporcionais, os fogos deste Verão foram mais destrutivos no Minho do que na Galiza (5% contra 3% da área afectada).

Este artigo de ECT deveria, portanto, merecer um esclarecimento da Direcção de Informação da RTP. Mas duvido que isso aconteça. Afinal, estamos em Portugal.

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