ASSIM VAI A VERDE NAÇÃO V
Um homem perigoso
Pedro Santana Lopes é um homem perigoso. Não em sim mesmo, mas como político. Com laivos de prepotência e pombalismo (há quem diga que os cartazes do Marquês do Pombal distribuídos pela cidade foram "retocados" para que o dito Sebastião José tivesse ares de Santana), o presidente da autarquia de Lisboa quer pôr e dispor da cidade, como se fosse um jogo de computador que se pode sempre recomeçar de novo (ou desistir) quando algo corre mal.
Desde que assumiu a presidência da autarquia, Pedro Santana Lopes quis mostrar serviço; mesmo quando o serviço era pouco para o muito que mostrava, ou melhor, que se ostentava nos cartazes espalhados pela cidade e que são uma autêntica aberração estética; basta ver o estado em que se encontra a Praça do seu "gémeo".
Rapidamente, Pedro Santana Lopes tem vindo a assenhorar-se de Lisboa, como se de um feudo se tratasse. E tratou de decidir: ora agora vai um túnel que traz mais carros para uma saturada Lisboa; toma lá um casino ainda não se sabe onde; sirva-se um empreendimento imobiliário no Parque Mayer que se tempera de forma revisteira com um arquitecto famosos, mesmo se a Revista à Portuguesa está morta e acabada (além de existirem muitos teatros em Lisboa desaproveitados); levante-se os arrais na Feira Popular e enxote-se tudo para o Parque de Monsanto que a zona de Entrecampos é carne do lombo para a construção de prédios; e já agora também o hipódromo do Campo Grande para o mesmo sítio que o «pulmão verde de Lisboa» há-de aguentar tudo e mais alguma coisa; faça-se umas torres do Siza em Alcântara que às obras dos génios ninguém há-de ter estatuto para contestar; feche-se o trânsito às zonas antigas mesmo se os residentes tenham depois de andar centenas de metros para chegarem a casa por não haver alternativa, senão podem ir viver para os subúrbios; vamos lá esburacar meia cidade com parques de estacionamento subterrâneo, mas não para os residentes que esses se os quiserem que paguem como gente grande; etc., etc., etc..
Tudo isto é feito como se Lisboa, como se em Portugal, não houvesse um planeamento. Como se um "one man show", mesmo se eleito democraticamente, tivesse o direito de ser autista e decidir, sem dar cavaco aos lisboetas, o presente, e sobretudo, o futuro da capital. E ainda por cima quando todos os problemas que desgraçam Lisboa (envelhecimento populacional, degradação habitacional, pobreza e marginalização em certas zonas, insegurança, etc.) continuam sem a mais ténue tentativa de soluções estruturantes.
Agora, Santana Lopes elegeu os técnicos da Administração Central como seus alvos. Pressiona, crítica publicamente, todas as decisões e leis que lhe são desfavoráveis. E se critica em público, imagine-se os cordelinhos que mexe, como vice-presidente do PSD, junto dos seus correligionários do Governo. Ainda esta semana, numa reunião camarária, Santana Lopes zurziu nos técnicos da Comissão de Coordenação Regional de Lisboa por obrigarem um empreendedor imobiliário a tomar medidas de minimização do ruído. E colocou esta "linda" questão (diria mais, puxão de orelhas):"Quem são estas sumidades para pôr em causa a opinião dos técnicos da autarquia?". Esta frase de Santana Lopes mostra, aliás, o seu calibre. E mostra também, de forma perniciosa, como é o seu modus operandi na autarquia. De certeza absoluta que ninguém na autarquia de Lisboa, desde vereadores a técnicos camarários, se arrisca sequer a contestar tecnicamente uma vontade do presidente. E se houve alguém, já estou a imaginar Santana Lopes a vociferar: "Quem são estas sumidades para pôr em causa a opinião do presidente da autarquia?"
Infelizmente, o povo de Lisboa, o tal povo sereno, está adormecido e sinceramente não penso que seja por considerar boas estas diatribes de Santana Lopes. Está simplesmente apático, amorfo, sem reacção. Por muito menos João Soares caiu em desgraça quando decidiu, com os mesmos laivos de prepotência, erigir um elevador para o Castelo de São Jorge.
Espero que ainda se vá a tempo de acordar desta modorra e que, pelo menos, se esteja bem acordado quando for apresentada a revisão do plano director municipal de Lisboa. É que temo o pior. E políticos como Santana Lopes gostam de nos mostrar que pior é sempre possível.
P.S. Prometi no fim-de-semana passado que a crónica semanal seria sobre questões hídricas. Não está esquecido, mas tive necessidade de adiar... Domingo estará aqui.
A Bela...
Estive a pensar em alguém ou algo que se possa destacar de positivo durante esta semana na área do ambiente. Devo andar distraído; não me lembro de nada. Já me dói a cabeça. Desisto. Pode ser que nos próximos dias surja algo de bom.
... e o Monstro
Para a escolha desta semana, aproveito o comunicado da Quercus sobre o secretário de Estado do Ambiente, José Eduardo Martins. Escreveu então a Quercus, a pretexeto das declarações do governante sobre a central de incineração que ele quer construir na região Centro: "Consideramos ser uma demonstração de incompetência que quem está a decidir um investimento de cerca de 170 milhões de euros, como é o sistema proposto pela ERSUC, ignore o estudo base justificador dessa alternativa. Ficamos ainda muito preocupados sobre a objectividade de quem, em reunião com a Quercus a 29 de Dezembro de 2003 anunciou ir promover um estudo para comparar custos da incineração e do tratamento biológico mecânico, e agora afirma enfaticamente que "toda a gente sabe" que a reciclagem é mais cara que a incineração, mesmo sem que esse escudo esteja terminado. Exigimos por isso um pedido de desculpas formal do senhor Secretário de Estado do Ambiente pelas afirmações feitas ontem de que 'a Quercus está a fazer uma campanha de desinformação'”. Mais palavras para quê?, é um "artista português".
2/06/2004
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