2/16/2004

Farpas Verdes XXXI

A vida não está fácil para o meu regresso em força ao jornalismo. Não é que no espaço de duas semanas "levo" com três direitos de resposta por causa dos artigos no DN sobre a falta de caudais nos rios internacionais e a ausência de descargas das barragens nacionais secando troços de rios portugueses? Hoje no DN aparece o director de produção da EDP a dizer que não me disse o que disse e que se deve ter arrependido de dizer (em suma, que o sistema de monitorização do Instituto da Água «não era credível»).

Em quase 10 anos de profissão nunca ninguém até agora me tinha acusado de escrever algo que não tenha dito de livre e espontânea vontade. É a vida, como diria o outro. Estou a ver que tenho que começar a gravar todas as conversas que faço. De qualquer modo, se para a EDP não é verdade que a monitorização do Instituto da Água «não é credível», significa então que é «credível» e, por maioria de razão, a EDP anda mesmo a secar os rios.

Já agora, hoje também saiu a minha resposta ao «direito de resposta» do presidente do Instituto da Água. Para que conste (e porque no site do DN só lá fica um dia), a minha argumentação foi a seguinte:

«Ao abrigo do direito de resposta, o DN foi obrigado ontem a publicar uma carta do presidente do Instituto da Água (INAG) relativo a dois artigos da minha autoria publicados na edição de 10 e 11 deste mês – “Portugal está a secar os rios” e “Ambientalistas pedem explicações ao Governo e Instituto da Água.

O presidente do INAG, não esclarecendo nem refutando os valores e as situações noticiadas pelo DN, prefere dizer que são falsas – sem apresentar provas irrefutáveis – e opta por citar, a despropósito, René Descartes sobre o conceito de bom senso.

Se, de facto, o bom senso fosse seguido pelo presidente do INAG porventura teria recuado na sua intenção de exigir “direito de resposta” às notícias do DN, para as quais recusou dar resposta a um pedido de esclarecimento feito uma semana antes da publicação.

O presidente do INAG parece esquecer, por outro lado, que em todas as notícias foram ouvidos especialistas na área dos recursos hídricos e foram usados dados e informações oficiais, consultáveis por qualquer cidadão via Internet (snirh.inag.pt e www1.mma.es/wlboletinhidrologico).

Omite também o presidente do INAG – e pessoalmente sabe-o bem – que o autor das notícias, sendo jornalista, é também um conhecedor profundo deste sector desde há muitos anos. Dá-se o caso do jornalista ser também engenheiro com formação académica e experiência nas áreas da ecologia aquática, hidráulica e hidrologia, não sendo portanto propriamente um leigo nestas matérias.

Posto isto, para que não surjam dúvidas junto dos leitores do DN, não mudo uma vírgula sequer em qualquer dos textos do DN que deram eco da ausência de caudal nos rios internacionais e da falta de descargas em barragens portuguesas. Os dados são indesmentíveis, a menos que o presidente do INAG assuma que o seu sistema de monitorização não é credível – e eu acredito que o seja, pois se assim não fosse não teria usado os seus dados como uma das fontes das notícias.»


Se puder vou continuar a acompanhar e a aprofundar estas questões.

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